Me prendem.
Prendem os pensamentos.
Prendem os desejos, até o de libertar.
Prende-me até o sexo,
o óbvio ser atraído e tanto,
por tantas de Oxum,
Filhas suas...
Deviam me livrar de amarras, estes desejos,
mas hoje, prendem.
E preso aqui,
de frente a um Congado
onde metade já deve ter deixado seus corpos livres
para Orixás (ou o Espírito Santo) descerem e dançarem neles,
me sinto horrivelmente branco.
E branco, racional e conformado,
me deixo levar até onde iria mesmo,
Pombo branco manco e sem asas.
Até então me ver mirado por ele,
em seu olhar torto e sua boca preta e rosa.
Senhor absoluto que eu não tinha entendido até ali,
despido de palco, e montado de si mesmo,
Tizumba fazia descer Santos e Orixás,
Abençoara a rua,
Licença já dada por Exu?
Enfim, juntava em si
e de si espalhava a todos esta certeza.
Torta certeza e rosto de pai,
fitou-me como quem diz:
“dança filho, que ninguém vê que é branco”.
Quase que certo do que seu olhar me disse,
Instantes depois cantava, bravo quase:
“Todo mundo é Preto, calunga!”
E preto, dancei, mais por dentro que por fora,
mas tão certo quanto o fez Fatumbi Verger,
No total escuro da noite em Benin,
Onde a noite e a floresta diziam o mesmo,
E espalhavam esta torta certeza:
Somos todos Pretos, e Pretos dancemos!
Poesia
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Literatura
Crônicas e prosa