O sofrimento é como um passarinho.
Quando muito atormenta, se pega com a mão!
Na mão, quente e atenciosa, que a ele se dedica,
Ele se cala. Então se joga este passarinho, sem dó nenhuma,
Na caixa dos passarinhos sofridos.
A cada novo passarinho que ali se joga, a caixa se agita.
Todos gritam, berram e te lembram que lá eles vivem.
Safados passarinhos, porém se largados, calam-se.
Uma caixa de passarinhos largados se aquieta, sossega.
Nada mais dela se saberá.
Assim em paz, dela se larga, esquece,
E assim, largada, num canto, um dia, claro, será chutada.
Chutada pela imprudência de se permitir novas passarinhagens.
De se esquecer toda aquela barulheira, anda-se livre, chuta- se a caixa.
Merda que quando a caixa desfaz, e todos voam,
nunca se tem uma espingarda.
Não deve ser nada.
Indigestão, intoxicação.
Não deve ser nada.
Princípio de enfarte, angústia.
Não deve ser nada.
Vontade, desejo.
Não deve ser lonjuras,
Não deve ser saudades,
Não deve ser poemas,
Tão pouco, deve ser paixão.
O cafajeste é majestade, é dono de si e seu amar sem fim,
sem limites, ou regras. Só amar.
É fonte sem fim de galanteios e reconhecimentos, e eterna adoração.
O cafajeste te vê onde eras invisível!
Bambeia por ti, onde tu não és, ou não sabias ser...
ele te vê rasgada e molambenta, por trás das vestes, acha sua alma,
na sua alma, lá dentro, idolatra seu corpo, cada defeitinho,
cada perfeição.
Não maltrate seu cafajeste!
- Por que escreves tantas melancolias?
Porque elas me invadem.
Ao escrevê-las, eu as expulso.
Ao virarem letras, contra o branco papel,
Não mais me pertencem.
Pertencem a ti, que as leu.
Enquanto as digere,
recém cuspidas de mim,
eu vivo alegrias indescritíveis,
que raramente lerás.
Um fusca
Um bulldog
Um caminhão!
Uma casa na Pampulha,
Quintal com grama
Sonhos que destruí.
- Por que, não os queria?
Destruí porque os realizei.
Choquei-os com a realidade.
Os matei, ou eles, à luz do sol, tiveram seu brilho desfeito.
- Não há esperanças para os sonhos?
Há, os sonhados, e os bons.
- Como separar os bons dos ruins?
Só dá para saber, realizando-os,
Ma sempre sonhar é bom.
- Mas não temes?
Não, os destruo sem piedade,
Mas prefiro sabê-lo.
Os realizo, vivo, adoro, e desisto.
Deles lembrarei (só lembro se vivi),
E lembrarei os bons momentos. Às vezes, sofrerei seu fim!
- Então os mata e guarda deles o que houve de melhor?
Sim, melhor que o que fazem uns com os outros, as pessoas.
Porém, quando se deixa de ser sonhado por alguém,
Surge um homem livre. Melhor assim.
As pessoas não são desejos, mesmo desejadas.
Esquecidos, voltam a ser livres.
Cargas afetivas são engraçadas, como nuvens negras...
São óbvias, mas não pesam enquanto se formam.
- E a realidade? É dura?
Dura? São três turnos duros, como de costume.
No meio do terceiro, paro,
vejo um para casa, prepara outra para a cama, recebe um abraço-cavalinho,
um beijo na careca, e um “vai lá, trabalhar para nos sustentar”,
dito de uma forma tão cheia de gratidão e reconhecimento... e você, vai.
Perguntou se era dura a realidade? Ela é suave, doce, bela e incomparável. A vida é a cura de todos os delírios do querer egoísta que desenha os desejos estúpidos de quem não ama.
Poesia
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O senhor SWEDENBORG e as investigações geométricas
Literatura
Crônicas e prosa