Enterraram minha bela rua.
Pedras entremeadas de grama,
chão de pé-de-moleque,
respiradouro para o solo urbano.
Acabou!
Betume, preto e morto.
Pista impecável, rua para os carros.
Mas não era? Não!
A estrada é para os carros,
as ruas, para as gentes.
Ruas deviam ser jardins,
que apenas permitam que os carros lhe passem.
Docemente, calmamente passem,
mas a rua era para as crianças se encontrarem!
Ela pode te consumir.
Pode te fazer um minotauro.
Depois o touro, morto e sangrado em público,
como punição à sua paixão deformadoramente intensa.
Consome, enlouquece, liberta...
do que? Da última!
Porém, tanta ternura, tanto amor sucre,
belo e suave, jogou-lhe ao mar,
mar de Dora.
Dora Mar intensa, com ela traiu Thérèse?
A ele, trair era verbo que não havia.
Dora lhe atira sim, não ao mar,
mas ao amor.
Afinal, uma mulher que foi a janela para o mundo todo,
para o sofrer da guerra, para a tristeza dos tempos.
Um dia, dor e amor, divorciariam?
Não, morreriam. Morreriam nas mãos felizes e improváveis,
da mulher Azul.
O resto? História, paixões, mulheres, amor.
Os malgaxes sabem.
São os galhos secos,
e com ares de raízes,
Baobás, são eles
que seguram o céu
ao redor da Terra.
Como é frágil a nossa vida,
como fica mais frágil e perigosa,
a cada coisa destas que esquecemos!
Há coisas que nos dão a certeza de algo que há,
que sempre será, que não representa outro engano,
da mente ou da alma.
Aquele nenê pulando aos pés da mãe, junto da porta de sua casa...
mãozinhas para o alto, no ritmo da música,
é um destes elos com uma verdade perdida,
Verdade que vi, encontrei, e abracei com meus olhos.
O mercado é o melhor lugar do mundo para perambular.
Creio Exu gosta dos perambulantes.
Os protege, por gostar de tê-los perambulando entre mercadorias e becos, seu reino.
Assim, vá sem pressa,
aprenda com as peças,
utensílios, cheiros, ervas,
carnes, palhas, cestos.
Aprenda com os rostos,
com a magia à venda,
com a alimentação a se criar,
com o simples, estar.
Rode, ande, cheire, esteja alí,
mergulhado na america-latinidade apicantada por África.
Respire a África, respira a África abrasileirada.
Entre com tanta força em meio àqueles utensílios magísticos,
tanta que o vovozinho ao lhe passar o olhar,
de já incorpora, transforma, engrossa, Exu?
Resmunga a Entidade no vô, segue ela,
segue você, seus caminhos.
Comece a tarde alí, Mercado e magia, então viaja,
almoce aqui, um Pub da Inglaterra dos druidas
(e continua)...
Old Speckled Hen,
primeiro gole, viagem...
tempo ou espaço, já de volta, Londres
(há um lugar secreto aqui perto, um pub legítimo, raro nestes lados do mundo, que ajuda na viagem).
Tempo. Aquele tempo.
Vidas, sentimentos, dilacerações,
vitalidade, mas sem força, com rumo,
mas sem embalo.
Espaço. Nem aquela Londres,
se lá for, existirá.
Existe em mim. Na essência, na alma,
nas buscas, exigências máximas,
liberdades extremas.
Tempo e Espaço, volto.
Meus anéis, lembram-me quem de fato virei.
O que sou, todos olham, ninguém vê.
Um farol invisível, hoje.
Em qualquer lugar, é o homem que acha seu caminho, e entende-o mesmo que o mundo nunca esteve nesta direção.
Quem a segue? Tantas estradas solitárias por caminhos paralelos, drenando e resgatando homens de um mundo perdido e fácil da maioria.
Porém, cada homem livre segue seu curso, só seu, e não perde o rumo traçado no início desta estrada.
Outro gole, volto a um Pub qualquer perto de South Kensington, onde esta jornada começou.
Nasce uma urgência.
Um vazio do qual desconfiava.
Tenho que ler Borges!
Nas bases do real maravilhoso,
a indígena, tropical realidade.
Dele, realismo mágico, se dele tudo li, lerei o que ele lia.
A não surpresa com o místico.
a coexistência pacífica,
racional Séc. XX e deuses.
Amores mágicos, contrariados.
Nosso 3x4, retratos.
Gabo fez a foto de todos nós.
Somos o que Gabo mostrou de nós mesmos.
O que Guimarães tinha visto?
O que Amado, Jorge, iluminado? Só pedaços.
O centro das Américas é Colômbia.
Se não lhe parece?
100 anos sós, mergulhados em cólera e amor, mudaram até nosso senso de geografia.
Poesia
http://www.jornaldepoesia.jor.br/
O senhor SWEDENBORG e as investigações geométricas
Literatura
Crônicas e prosa