Flores na sombra de um resto de luz.
Girassóis na sala murcham, murchos, os deixo.
Olhos passeiam nas flores brancas, perfeitas umbelíferas.
No resto do escuro, não sei o que é o resto,
Senão as flores, murchas ou tesas, e mesmo assim,
o breu não é preto, nem escuro, é só a ausência.
O longe no escuro é o breu negro, mas aqui perto,
a poucos metros, o breu é só discrição.
Tudo o mesmo, mas o lusco-fusco, nada esconde.
Se vejo, porém, não sei direito, e não há defeitos.
O mundo em breu fica perto demais, e como está ...
perto de ser só perfeito.
Seria se não fosse tudo que há de mais forte e claro,
colorido e reluzente. Afinal, goste ou não, poetize ou não,
um girassol murcho se vê de longe, de perto, se vê no escuro.
É uma flor de grande cabeça, corpinho miúdo,
Que triste, magoada, ressecada, e sem recursos,
Nada esconde, sua melancolia, todos terão.
A água.
Regar.
Jardim, flores,
Oasis.
Regar é o ato de criar oasis.
Regar é o poder de ignorar o mundo,
E fazer seu pedacinho, amado e cuidado pedacinho,
Largado, cheio de mato, pedacinho,
Entulhado, cheio de plantas, pedacinho,
Arrumado, armado, e planejado, pedac...
Regar é amar suas plantas e não deixá-las morrer!
Regar é o poder de ignorar o mundo,
O céu,
Os dias,
E fazer de seu pedacinho um lugar lindo no mundo,
Seja o mundo o que o mundo for.
E lá encima, tarde, seco, quase frio, a lua abençoaria, se não fosse só um lindo satélite.
Tenho ratos no telhado.
Achei-os gambás,
Certo, são ratos.
Ratos são piores,
Mas se matam mais fácil.
O tamanho de seu problema?
Inversa proporcional de sua solução.
Nada é tão ruim por ser ruim,
Mas por ser imbatível!
E nada é mais falso que a sensação de que o bem venceu,
quando vencemos. Venceu?
Tinha mesmo certeza do lado que estava?
Se vencido estivesse o bem,
não haveria a analogia de luta, nem de vitória.
Haveria, o bem.
Um calor de dar briga.
Beba então cachaça,
Mas não saia de casa.
Não veja ninguém,
Não converse,
Não se mostre.
É calor de dar briga.
Beba e sua.
Sua bebida, seu suor.
Mas não veja ninguém.
Sua sozinho, escorre,
Molhe seu ombro.
Corpo quente, molhado.
Costas, braços, pescoço.
Toda e qualquer força,
Músculo rijo,
Ou pele flácida de carne lerda,
Ou mesmo pedra em forma de gente?
Vá suar, que o vento “em vem”.
Dia quente, noite de vento, alma de homem,
Calor de dar briga. Beba cachaça, mas não saia de casa.
Não veja ninguém.
Será que consigo?
Sábado, uma noite de calor.
Poemas ao que?
Ao desejo de fazê-lo?
Ao pó, calor,
secura e calor.
Ao céu azul, piscina também?
Criança dormindo,
acordando,
mergulhando feito sereia?
Dois metros, dois e meio.
Vai de cabeça e volta.
Sereia densa e pesada,
a outra, flutua feito pluma.
A o que?
A querer fazê-lo? A ter ninguém?
A ter tanta gente, ninguém?
Ao fazê-lo, por querer.
Por nada a não ser,
palavras e mais palavras.
Jogadas, sem rumo, porques,
a o ques,
Lançadas na folha, uma, outra.
Sem nexo, ritmo, nada, a não ser...
Sempre há um não ser, que seja.
Palavras pela beleza de serem ditas.
De mostrarem fluir um pensar.
De se perderem em evolução pura.
Sem razão, como a vida orgânica,
pela sorte de surgirem, e sem razão,
mas, inexoravelmente, com as mais terríveis,
dramáticas e belas,
consequências de serem a beleza que são.
Poesia
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O senhor SWEDENBORG e as investigações geométricas
Literatura
Crônicas e prosa