Deixo a triste Lisboa,
Como uma mulher mal-humorada,
Mal amada,
Mal amadurecida,
Esfria minha paixão com suas arrogantes mágoas.
Mas volto-me á minha campesina açoriana,
Aquelas ilhas-amantes,
Que nunca fizeram outra coisa que me fazer feliz.
Lembro-me sua brisa,
Infinito mar,
Rasgar das silvas à pele e
O cheiro de húmus no ar.
Lembro de sua doçura,
Sua calma, sua civilização esquecida.
Encho-me de sua gentileza, hoje presente e parte de tão longo isolar-se.
E o meu constante esperar de um dia ver uma baleia ainda do ar...
Se eu fosse Euclides da Cunha,
Estaria morrendo este ano.
Mas melhor, bem melhor,
pois escolhi minhas mulheres
de maneira mais determinada:
larguei as que amei, e não prestaram.
E assim escapo do absurdo vexame de ser morto por um,
delas amantes.
Euclides nasceu 101 anos antes de mim.
Escreveu poemas.
Lutou contra seus ímpetos internos.
Apaixonou-se pelo sertão,
pelo setanejo,
e, afinal, pelo Acre!
Apaixonou-se pela evolução.
Tentava explicar o que era ruim no bugre,
À luz de Darwin.
Nos achou degenerados,
Depois, achou isto dos europeus,
e dos cariocas,
E viu nos bugres enfim os a serem bem selecionados!
Se fosse possível sentarmos de frente a um por do sol avermelhado,
destes por trás do cerrado,
onde não se visse ninguém,
nas celas de dois cavalos...
Falaríamos da “contradição extremada do ficar, ou partir”.
(depois eu ia lhe explicar a teoria da evolução direito, e porquê podemos abandonar a idéia de raça e que, se ele descesse do cavalo e fizesse força com os bugres, comendo o que eles comem desde nascido, mas, e mais importante, se ele refletisse e pensasse menos sobre tudo, ia ficar igual a um bugre branco... e tentaria lhe enfiar umas ideais mais sustentáveis sobre o convívio com a natureza.)
Ele não destruiu a civilização,
destruiu a civilidade, a gentileza e o respeito.
Ele não enfraqueceu o capitalismo ocidental,
fortaleceu!
Deu às Companhias aéreas, aeroportos e uma rede de outros ladrões,
o direito sobre o cidadão, masoquista, que paga os mais altos preços
para ser tratado como terrorista internacional logo de manhã.
Subjulgados à obrigação de usar aviões,
com linhas loteadas e sem competição real,
o capital só precisava dele, Binbin safado e colaboracionista,
para impor humilhação e roubo à luz do medo.
Para os portugueses que se fazem de burros e obtusos para serem abusadores e sem vergonha (bem, façamos justiça, os portugueses não! Os Lisboetas, pois ao menos nos Açores ainda sobrevive a delicadeza, paciência e respeito ao próximo), isto lhes caem ainda melhor!
Calmo, tomo café e assisto a tudo isto de longe.
Não me pegam de surpresa, e eu sei que tenho que estar aqui 3 horas antes do vôo, para ter tempo de escolher o abuso que menos incomoda.
Ou, claro, sempre pode-se viajar sem bagagem e pelado para que se passe ileso às regras e não te obriguem a se despir em público.
(horas depois de escrever isto, me pegam no embarque para correr atrás de uma mala minha parada na segurança por causa de um líquido de zippo esquecido no seu interior. Teria perdido o avião, eu, o primeiro passageiro a fazer o check-in, não fosse a gentileza na moça que me atendeu que, coincidência, viveu na Terceira, e quando soube que foi lá que eu deixei o líquido cair na bolsa, me salvou).
Se largasse minha mão,
o que ela escreveria?
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Minha mão não sabe escrever...
Então, larguei meus olhos.
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Eles também não.
A sombra de um sol forte,
O amarelo se torna profundamente vivo e belo.
É o sol, parcial e tendencioso, brilhando até onde ele não alcança.
Brilha amarelo, e me embriague!
É incrível o tanto de História que eu aprendi lendo Tio Patinhas.
Talvez por ser, quando viajando, lembrei dele só de pensar neste tipo de absurdo: poderia um filme americano idiota dizer algo a alguém?
Muitos anos atrás ouvi em um destes que, quando se achava petróleo se para de cavar...
1989, 1993, 1995, 1998, 2000.
Formei, tornei-me mestre, mudei para Inglaterra, formei-me Ph.D. e voltei ao Brasil, virei pai.
Hoje, o que eu quero tem pouco a ver com o que eu me tornei. Mas, dei sorte, e me tornei o que eu quero ser, e ainda tenho o poder de mudar o rumo de como posso ser e, profundamente, acho que estou mais cansado que querendo mudar...
Não, claro que não, não se aprende nada com um filme americano idiota, e não se vive para cavar!
A vida não é mineração, é agricultura.
Levei anos querendo te pedir perdão
e, finalmente,
eu consegui te perdoar.
Quase em Alfama,
Fotografei uma irmã escondida.
Ela veio, conversou,
Fez-me minha amiga.
Depois, voltando por ali,
Entrei, e ela me mostrou seus 200 meninos pobres,
Abriu, iluminou a igreja,
Me deixou só, rezando.
Como eu choro quando estou aqui.
Tomei juízo e entrei num buteco,
Azulejado,
Ventilador no teto,
Naftalina no banheiro,
Eu, e todo o resto, portugueses almoçando. Acertei!
Melhor comida em dias,
Com sopa e jarra de vinho...
Aqui, sabido e entendido brasuca,
Mas não turista nem migrante,
Vi o 4º gol e pude gritar:
“- agora podem perder de nós com tranquilidade na quinta!”
E fiz amigos!
Com os novos amigos, não mais me sentindo um mal entendido
Brasileiro (viva o preconceito!)
falamos mal do Ronaldo,
falamos bem de nossos times,
disse não saber mesmo o que viria no próximo jogo,
diziam que o empate era o bastante!
Mais que isto, em duas semanas, finalmente me senti
profundamente
verdadeiramente,
Feliz.
Feliz por ser eu,
Por ser como sou,
Por aceitar o tempo que leva para entender porque ando tanto.
Enfim,
por adorar estes portugas, adorar os panamenhos, os franceses, os ingleses, nós mesmos, e ser feliz para cacete!
(ao final, Ronaldo equilibrou uma bola às costas, após atropeçar, ainda assim achou-a caindo ao seu lado direito, e chutou direto... gooooolo! Terminamos elogiando o malandro!).
Uma oriental,
Um africano.
Dariam lindos filhos?
Mas não,
é uma brasileira,
e um americano.
Somos todos iguais,
disse o genoma sob tortura...
mas, acima de tudo...
Que casal chato para caralho!
Bacalhau grelhado,
Futebol,
Carecas,
Origem, a vaga origem...
O que uniria tão diferentes?
A mera, pura,
efemeridade de um curtíssimo convívio.
Eu o vi antes.
Faziam bagunça,
seus filhos,
Em uma loja de roupa.
Na rua,
Subiu nas costas de um negão,
Para salvar aos putos,
Um bonequinho de grudar.
Sua aparência,
Mais mon oncle que papai...
Era adorado,
e todos aplaudiam.
Logo aqui, que não gostam tanto de criança!
Nasceu assim.
Ninguém ajudou.
É que feia de tanto como é,
sempre daria,
dava para ajudar!
Porém, de novo,
como há anos antes,
quando a suprema feiúra
me atravessou uma rua,
A beleza fez-se, sei lá como,
presente.
Enquanto ardiam seu corpo,
Também em Lisboa,
Dormia o meu.
Poucas flores,
Poucos populares,
Bem... menos que merecia,
Pouco mesmo!
Mas, afinal, no que criu,
também morreu.
Da revolução comunista,
é incrível, mas só sobrou o pior:
Pães ruins e iguais,
Eucalipto em lugar de florestas.
Nas cincas de suas dívidas,
vitimados pela sua sedução
ao dinheiro que os faz reféns,
portugas recebem as de Saramago.
Saramago voltou!
Mas logo agora,
Que ele mesmo dizia,
Não está mais lá!
(acordei com o batalhão de choque passando à minha janela, mas logo depois, nem os soldados lembrarão mais).
Minha mão, por tanto tempo, e só.
Nada mais para ver... garçom!
Falta você em cada coisa que vejo.
Falta o que eu gosto com você,
que gosto mais que o resto que eu gosto demais.
Falta você, Laura e Bibi,
emboladas em mim,
e nada mais falta tanto assim.
Para você, para elas, para mim,
Babi!
Casal punk, ao meu lado.
Sem charme, sem emprego.
Velhotas à frente.
Uma, papa natas, bem mal,
a outra, muito bem,
e à mandar!
Numa esquina da Avenida Liberdade,
começo a fotografar com a caneta!
Correm soltos, uns pequenos,
outros, muito grandes.
Estranho e desagradável assim,
visto nos vídeos de todas as lojas.
Pessoas arremessadas,
pisadas,
chifradas, e
Toiros, inocentes,
atormentados...
Soa mesmo mal.
Mas soa mal tanto daquilo
do que não entendemos.
O medo de se perder,
misturado à vontade
descontrolada de ir!
Soa estranho, mas quem já esteve lá,
sabe como é maravilhoso.
Tem tudo, casa, abrigo, família, amor e
não troca por nada.
Tudo largaria (o mundo todo)
para ser só o que já tem...
Mas ainda assim, segue partindo.
E vou largando aos poucos este partir,
para querer ser o velhinho
com muita estória e dinheiro,
Casa e tempo para os netos.
E vou levando as estórias que ainda construo,
e O Eu, que somente quando só e longe,
entendo e encontro tão escandalosamente.
O súbito encontro
com o rosto negro
de olhos pequenos e nervosos
de um toiro que sobe a rua e te avista,
é como encontrar de frente com a própria vida,
amá-la,
e fugir para a segurança da integridade de seus ossos.
O quanto se escreve, vê e faz, se decide fazer nada? Em uma cidade de novo sacudida pela falta de esperança e futuro, agora barata, agora suja, surgem poemas, poemas e prosas.
Poesia
http://www.jornaldepoesia.jor.br/
O senhor SWEDENBORG e as investigações geométricas
Literatura
Crônicas e prosa