Jardins de Palavras
em canteiros de versos
a cerca de eiras de prosa.
Em 2008, um mês, um livro, desde julho
Domingo, 25 de Janeiro de 2009
Momentos Borrachos
LIVRINHO BESTA, COM LINDOS E POUCOS POEMAS, ALGUNS, NEM VALIAM A PENA... FICOU CURTO, E BOM.
Momento Borracho - luto
Ontem te deixei com sua tristeza,
Sabes bem, da minha prerrogativa
irrevogável de trazer a alegria, que for,
para minhas pequenas.
Devia tê-las deixado viver com você, porém,
Com sua família, já tão delas,
as suas tristezas.
Mas logo você, tão alegria, tão a felicidade...
Fiquei com dó de mostrar que a vida é assim tão plena,
Em um domingo assim, de final de férias.
Doeu a elas te ver chorando, e te deixei, chorando,
Para não vê-las sofrer por ti.
Fiz pior, as fiz feliz naquele dia. No momento,
Aquele exato momento que te doía mais.
Fomos ao cortejo, e dançamos rua abaixo,
Enchendo meus amores, dois deles,
De toda a alegria do mundo.
Era a consagração do esforço de lançá-las,
bem forte e fundo, a um mundo que pode ser belo,
lindo e doce. Foi ver em cada passinho de dança de Laura,
A alegria de viver, de se misturar, e andar solta e feliz entre as gentes.
Soltura igual e tão grande, em cada sorriso de Gabi.
Mas lá, não tão longe de ti quanto sentias, não esqueci da sua doce Tia Efigênia.
Lembrei dela, de seu sorriso, de sua alegria, e seus casos de vida,
extrema vida, que contagiava a ti, a todos, a mim, sem nem conhecê-la.
E assim, contaminado dela e sua alegria, na descida da Rua Direita...
Quando Laurinha me puxou para dançar na rua,
trouxe ela,
Sua tia,
Comigo,
Para o meu lado, na rua.
Longe de todo sofrimento, quis trazê-la,
Viver com ela esta dança e alegria daquele agora,
Quis vê-la despedir da vida terrena, na alegria com que,
eu mesmo, dias antes, me despedi dela, em festa terrena também.
Foi ali, em consagração à vida, a nova e bela vida que hoje trago e distribuo,
à vida bem vivida de sua tia, que dei a ela minha rápida, e serena devoção.
Mergulhado na gratidão de,
ter sido Efigênia tão belo acontecimento na sua história,
ter sido mais uma vez mistério da morte para Laura e Gabi,
e de ter sido assim, com a chance de elas saberem deste evento sem o mundo desmoronar,
lhe agradeci, com um enorme sorriso.
Mas, a eternidade lhe esperava, em alegrias maiores, e ela, partiu.
Momento Borracho - 3
Eu quis ejacular este poema.
Em desespero ao sentir este medo,
Da falta dos outros.
Do fragilizar alheio,
que tanto me deixa só.
Na necessidade abandonada
de ter gente em paz em volta,
quis largar disto.
De poema, quis pichar no muro,
Palavrão!
Uma xingada em piche,
Um cuspir, lacaniano,
No não-eu!
Mas, não.
Lembrei que escrevia por amor.
Amor que me faz agüentar estar só,
Que me agüenta em centro,
faz os outros terem a mim, em mim,
Enfim alguém, para o que for, e o que der.
A mim, a busca de retorno, eterna, ainda,
Lacaniana.
E amor é assim,
Não escreve com a mão.
Com o cérebro.
Com o pensar.
Sem a métrica que mataria o sentir,
O amor pelos outro, pelo que se faz,
Pelo complexo, e simples viver,
Se escreve com o sangue denso,
Arterial vivo sangue!
Embebido em ordem na mente,
Para transcrever,
Em desordem,
A alma.
Momento Borracho 4 - o poe... jardineiro e o pintor
Hoje molhei meu quadro,
Pintado com vida e formas,
As plantas que cultivei.
Ontem, reguei minha paisagem,
Retirada do dia, belo, azul claro,
Dia de inverno. Já dentro da tela,
O dia lhe enchi, reguei de cores,
Formas e tons. Telhado, rio, chão.
Hoje, dorme o poeta, há dias, dorme.
Sua poesia, sufocada, transborda,
Invade telas, jardins, até a ciência,
Fina e reta, se poetiza na beleza de cada ser.
Dormido fica então este espaço, a espera de ser,
Enfim, julgado. Deve ser por isto, dorme o poeta.
Não veio ao mundo para isto.
Veio, sim, só para colorir.
Momento Borracho 5 - feliz aniversário
Hoje nascia um dia, meu pai.
Nasceu, dias e dias atrás.
Tantos que deu 86 anos.
Tanto, que ele nem agüentou vir ver.
Papai, morto em dias para frente,
em dois anos para trás.
Tanto para ele escrito,
Tanto lembrado,
Tanto tato tanto ele,
O melhor dele.
O pior,
Curado. Tão fácil curar.
Tão pouco, tão nada, este pior.
Do meu pai, saudade, nunca,
Nunca, nunca, nunca, nunca, nunca
Nunca, nunca
Nunca
Nunca
Nunca
Nunca,
Nunca, nunca mesmo,
Vai passar.
Momento Borracho 6 - saudades
Assim, parado o blog,
Parada a mão, não o coração.
Escrevo, escrevo, escrevo,
Ainda, com cara de desenho,
Escrevo em rascunho,
No caderno de esboços.
Como esboços dançantes das melhores
Memórias,
Permaneço, só, e nunca desacompanhado.
Permaneço.
E sempre sigo.
Vejo sem olhar, cheiro para dentro,
Te respiro na saudade,
Material, sólida e perfumada,
Pedaço de carne dentro de mim.
Tenho sem ter, é, sem nunca acabar.
Mãos andantes, tempo sem ter,
Sem tempo de ter... parado, tudo está.
Logo, aguarde, logo, vai mudar.
Isto aqui vai ser só flores,
Um jardim com todas as palavras,
Velhas palavras,
Novas, no arranjar.
Em breve, vou sonhar,
Terei flores no mar,
Para me pensar baleia,
Te pensar meu ar.
Momento Borracho ... realmente borracho
Disseram que fiz coisas espetaculares,
comigo mesmo.
Coisas que impressionam,
pois as fiz, contra tudo de ruim que sou,
tenho,
guardo,
herdei.
...
...
...
...
...
E daí?
É isto que todo mundo faz mesmo.
E, a merda, se voasse?
Seria só uma merda voadora:
Mais perigosa,
Mais temida.
Momento Borracho 8 - eu e os loucos
Eles me conhecem.
Me acham, aonde eu estiver.
Alguma coisa,
Desta coisas, de louco,
Que só louco conhece.
Seria o jeito de olhar,
Olhando, e fundo,
No olho e no ser?
Seria coisa de cachorro,
Doido, que olhado,
Se sente atacado?
Eu sei que me conhecem,
E gostam de ficar perto de mim.
Para um dia, sabe se lá,
Chimpanzé enfurecido,
Atacar!
Lembro do doido da ponte,
Lá embaixo, na Baixada Verde.
Manso e bom, um dia esquentou.
Foi outro louco, andarilho,
Que na vila entrou.
Da ponte saiu, e o infeliz,
Um dia inteiro rodeou.
Doido tem território,
Onde só entra um doido – ele.
Serei eu, seria.... doido também?
Um doido sutil, difícil de reconhecer?
Terei no encontro dos doidos,
A mera louca busca do que seria eu?
Queriam o que? Os loucos, doidos,
Varridos cretinos, só querem me enlouquecer!
Momento Borracho - qual?
Momento borracho, qual?
Vive o poeta!
Vive, dia a dia.
A muito, alternava,
Um dia, vivia,
O outro, sofria.
Hoje, vive.
Dia a dia,
Vai sem olhar para trás,
nunca,
Só o seguir,
Só para frente,
Vive.
Vivo, até meio assim,
Diria uns,
Assim assim...
Egoísta e distante?
Não, no fundo, não.
Só quer continuar a viver.
Pergunte então àquelas pequenas.
Elas vivem nele a alegria que,
Assim assim, hoje ganhou.
Canta, dança, brinca.
E vivo, escreve menos.
Pouco ou nada,
Pois seus poemas,
agora, devora.
Respira o que inspira,
Vira ar nos pulmões,
Não para, não anota.
Devora com pão,
Nas curvas, nas voltas.
Mais de mil escreveu.
Na mente, escreve.
Nos olhos, apaga.
A vida efêmera, agora,
rege o dia e o tempo.
Os poemas, podem,
Quem diria, até acabar.
Afinal, qual a pressa?
Qual a urgência, de enterrar?
Um papel túmulo, sentimentos
Fortes, dados, compartilhados,
Enterrados nos olhos alheios.
Passados para a frente, para deles livrar?
Livre e vivo, um dia,
hoje, quem sabe,
Volta a ajudar.
Mais feliz, ajuda,
A velha ajuda,
também flui.
O que inspira,
o que faz,
não é também, mais seu.
Ser guiado também deixou,
Flui nele o amor, aceita,
Orixás!
Agora, a vida é poema, e poema,
Se vive, observa, respira, e só.
O ar, no papel, quem aprisionará?
Abril, oito, mais dois mil.
Momentos borrachos
FIM
LIVRO COMEÇADO NO SUSTO DE UMA TONTEIRA EXISTENCIAL, E TERMINADO NO OSTRACISMO DE SUA INUTILIDADE ESTÉTICA E SINCERA.