Jardins de Palavras
em canteiros de versos
a cerca de eiras de prosa.
Em 2008, um mês, um livro, desde julho
Sábado, 25 de Agosto de 2007
Momento borracho 3
Eu quis ejacular este poema.
Em desespero ao sentir este medo,
Da falta dos outros.
Do fragilizar alheio,
que tanto me deixa só.
Na necessidade abandonada
de ter gente em paz em volta,
quis largar disto.
De poema, quis pichar no muro,
Palavrão!
Uma xingada em piche,
Um cuspir, lacaniano,
No não-eu!
Mas, não.
Lembrei que escrevia por amor.
Amor que me faz agüentar estar só,
Que me agüenta em centro,
faz os outros terem a mim, em mim,
Enfim alguém, para o que for, e o que der.
A mim, a busca de retorno, eterna, ainda,
Lacaniana.
E amor é assim,
Não escreve com a mão.
Com o cérebro.
Com o pensar.
Sem a métrica que mataria o sentir,
O amor pelos outro, pelo que se faz,
Pelo complexo, e simples viver,
Se escreve com o sangue denso,
Arterial vivo sangue!
Embebido em ordem na mente,
Para transcrever,
Em desordem,
A alma.
Domingo, 19 de Agosto de 2007
De volta
Uma tela de galinheiro,
Em algo que não, não é galinheiro.
Outras tranqueiras, troços soltos.
Azul, vermelho, risquinhos brancos,
Madeira, engradado, pensei... convés.
Sacode todo, treme... uma corda!
Solta, corda de fibras.
Uma alça na corda, quase no chão.
Pula, roda, gira, parece viva, e se fosse, alegre corda!
Sua dança que converte o sacudir em música,
A música vinda do ruído, a dança vinda do sacudir.
O tom, a madeira, a luz da tarde que finda,
Balanço também. Mesmos buracos?
De perto, arrisco sonhar com um canto no mundo,
Seus troços e a beleza emanando de tudo.
Cada uma das coisas, que tem coisas que me tocam assim.
O tom é marrom, é áspero, é belo.
É só um caminhão. Boleia de madeira,
tranqueira.
Nas suas rodas, perdido.
Go, get lost!
Não, não fuja mais não.
Só dirige. Vai, sua casa, tão boa e bela.
Vai para casa.
De volta, maio 2007.
Sexta-feira, 17 de Agosto de 2007
Meu amigo, uma tarde, bacalhau
Dão, alecrim, queijo curado,
licor de cachaça mofado.
E de mofo em gole,
vou ficando mole, e feliz.
O velho e último cortiço do bairro
guarda na árvore de frente,
um jardim suspenso.
Com plantas que queria eu ter,
tão velhas quanto o tempo todo.
Importante dizer, que linda!
Então, lembro de árvores do passado.
Elas, lá no mato, me jogaram com seus galhos,
em tempos antes de tanto dar tão errado.
Antes de tanto dar tão certo também.
Estranho que em uma tarde de paz, felicidade, sol e bacalhau, a vida parece ser boa por ser um belo, sereno e, ultrapassado, empate.
Sexta feira da Paixão, 2007.
Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007
Extravagâncias
Estes são os anos mais extraordinários da infância de minhas filhas,
E da minha, de pai.
Se tenho que passar algumas horas longe delas, tem que ser para fazer coisas,
que tem que ser coisas extravagantemente espetaculares, ou as horas, não mais,
se justificariam.
Estes anos, bonitos, e ricos.
Segunda-feira, 13 de Agosto de 2007
Seca e Tesão
Chega a me excitar.
Estrada lenta, carro em flecha.
Atravesso matas e pastos,
Árvores tais, Acácias de lá.
Uma África como aqui.
Também na Takira,
que escuto nos tímpanos.
Que batem como se Madagascar fosse eu.
E no sol, que queima ao cortar o ar assim tão seco.
De Brasil-África, origem mesma,
Clima igual, hoje longe,
Mas tudo o mesmo.
E cada árvore, então,
quase e meio todas indiferentes,
Rebrotam.
E rebrotos assim, cada árvore corta o ar seco,
como uma chuva para cima, de folhas novas.
Dez ou mais tipos. Tipos de verdes claros.
Gritam em cores as árvores daqui,
Que seca que nada!
Cerrado montano meu.
Tem água no chão! Sempre, todo sempre, disseram tal coisa.
Árvores, não mentem.
Da água faz verde,
Do sol, deleite.
A secura, que eletriza,
É só secura do ar.
Um dia passado,
Me erguerei eriçado,
Ao sair vivo e forte,
Na próxima chuva.
A seca, afinal, é a vida como a água que ela não levou. E a vida, é puro, mero, e belo, prazer.
Seca, 2006.
Sábado, 11 de Agosto de 2007
Êê Mundo!!
A melhor paisagem que há.
Criança feliz,
das mais lindas de todas.
Em uma sala em luz,
no seu canto mais Yin,
Assim, no seu centro.
Sentada no colo,
e, de fundo,
as vacas na água,
na sombra da árvore,
ao pé do seu moço.
Um quadro velho,
testemunho das tranquilidades maiores.
Um globo quebrado,
segurado no aro,
o pai.
No colo,
a filha,
em sorriso só,
bate mãozinha com força.
O globo gira rápido,
“Êê mundo!”
Menina fala feliz!
As terras em cores somem,
E fica o azul do mar,
Mundo rápido, ê mundo!
Deixe de ser terra!
Deixa de ter ar.
Gabi, sorriso e olhinhos,
Diz:
Pai, o mundo virou cachoeira!
Sexta-feira, 10 de Agosto de 2007
Araucária, Itacolomi, mosquetões
Matas, longínquas e distintas.
Pela sua distinção e “posura”,
Pela diferença uma da outra.
Daqui, num só olho,
vejo tantas matas.
Araucária, antes muitas, agora sarapinta
o alto das outras, árvores pequenas,
ou só menores.
Árvore, árvore, árvore, árvore,
Como num tedioso desenho da infância,
Árvore a árvore, fazia a floresta no papel.
De um lado, verde claro candeia,
Do outro, verde escuro floresta,
De fundo, verde cinza montanha.
Vales, encostas, pontas de pedra,
Sinuoso rochoso, morrotes mulheres,
Cobertas de matas pubianas e capilares.
Hoje moro aqui, do lado dela.
Hoje, neste dia de hoje,
Sobem nelas muita gente,
Que eu, assim do meu jeito,
Cá trouxe para amá-las como eu.
Canopy Training course, 2006
Quarta-feira, 8 de Agosto de 2007
Lisboa de enganos
Cidade velha, cidade nova,
azulejos desfeitos, refeitos aos poucos,
busca mudar, sem tanto alterar.
Gente que lá tem, nem sempre merece.
Despreza-se o ser mouro, o ter enriquecido com o preto,
o ter espalhado seus filhos.
Arrogância com cara de medo, racismo sem cara nenhuma.
Vai mudando nas caras novas, que vão, que vivem o mundo,
e voltam mudados para cá, e por aqui, permanece para sempre.
A espera do bem, o que sempre esteve.
As sombras dos pinus, dos juniperus, das cores,
Dos azulejos, a paz.
O azul do mar e das coisas,
desenhos de estórias manuelinas,
de cores joaninas,
de cheiros de mar e de peixe,
gambas e sardinhas, fado.
Casinhas em ruas estreitas, favela um dia, Alfama hoje.
Ruelas em cidade alta, bares e luzes.
Casa a casa, birita a birita,
mistura-se Eça de Queirós e tremoços com caracóis.
Rossio e Pessoa se seguem em pensamento, vago, longe dali.
Naquelas ruas mesmas, tão longe de mim, um dia vivi outra história.
Tão insana como qualquer vida à parte sempre é, ali há tanto de mim,
guardado e sem uso, que me assusta ver.
Eu, quase português? Naqueles dias que andava pela cidade velha... é esquisito não ser.
E tão estranho ser parte disto tudo, sem nem estar aqui.
Cada movimento, do bonde, das gentes, meus passos, criam a paixão com cara de engano. O engano é você!
Assim como a toda planta que nunca tem água bastante por mais que chova: secam e morrem.
Que então murche, para seco, sem água, perpetuar-se no vazio de sua esquisitisse.
Que fique em Lisboa e nada mais.
Lisboa, Maio 2006
Segunda-feira, 6 de Agosto de 2007
Lugares. Gentes
Folheando uma revista de viagem,
Penso de novo no mundo,
Em todos nele, no que pensam de si mesmo.
Página a página em mundos mágicos,
encontro Porto Santo, “paraíso esquecido pelos Portugueses”.
Pudera, ilha longínqua de gente caipira, com atrasos do passado
Que já não se vê no continente.
Ilha longe de mim, será? Ali, é só a próxima ilha.
Tão perto, logo ali, a única terra que se avista,
E nem dela nunca tinha ouvido falar.
E, logo nela, tão erma e calma, de pouco atrás,
Um “Portuga” continental me contava de suas farras,
E fugas de discotecas, na tal ilha paraíso português.
Tão aqui, esta gente e seus cantos,
Tão igual, cada gente e cada canto.
Como dito antes, não é senão aqui.
E assim, depois, só,
com um tipo açoriano que sabe o mundo e não lhe quer nada senão o existir,
Falo de estar, de viver, e do espetáculo daqui.
O de sentar e assistir a vida passar, e serem as pessoas de verdade uma verdade boa e longa.
Verdade que, em muitos cantos, as pessoas esquecem de viver.
Um espetáculo, que brilha a quem de muito longe vem.
Pois brilha, o mundo de sempre a brilhar, para além dos falsos copiadores
de ocidente doente, invés de ocidente mudar.
E aqui, no fim de mundo madeirense, com cara de Nordeste,
Fim de mundo Miquelense, com cara de Minas,
Início e fim de um mundo de fundos e crenças,
Donde as gentes dos lugares com valores,
Vivem a loucura de saber, ser ali um lugar, e o lugar viver,
Sem temer, sem sofrer, sem frustrar.
E no mundo de verdade e viveres, a felicidade de ser gente e gente ser sempre, só isto,
gente e só.
Longe da soberba urbana de quem se esconde deste segredo e mistério, do bom no pouco e quase nada, e neste segredo cria a ânsia de fugir e achar no mundo do mundo comum e do “cosmopolitar”, um viver sem se perder, onde nada há, senão o recriar deste viver.
Simples e para sempre, aqui, Seixal, Cachoeira do Campo,
Mais longe, Mathe Metdfill, para lá de tudo, Vanuatu,
Para cá do nada, Anchieta.
Mesmas gentes, jeitos e viveres. Felizes ou não, a dor estar no querer ser a besta que se pensa em imitar, e não ser o bom que se é, e o respeito que tinha que buscar.
O mundo é bom em todo canto, mas em cada um, pedaço ou canto do mundo, só o vê quem nem busca ali o que o mundo pede para ter. E assim, sem notar, tem um mundo para si.
A vida pede a paz de ver no jovem, com cara de jovem, corpo, barba, cabelo, roupa e jeito de jovem do mundo, de seu ser jovem, o estado de continuar a ser o que é, a si, e mais nada.
Pois além, só há o medo de ser a si, e o pânico, de viver o que não se quer.
Para que as pessoas vejam a si, em cada canto de mundo, só em si mesmas, e sem ensimesmar,
Aprendam a serem a cor do planeta, a água que não para de brotar, a chuva que não vai parar de cair, e uma vida para sempre se amar.
Sem perceber o penhasco em luz, de um canto dos mais belos e felizes do mundo,
Que aprendam seus não-felizes nativos seu valor, que sejam, mais que o time em vermelho em São Tomé da Serra, onde umas dúzias de pessoas viviam a alegria de uma pelada a jogar, ao pé displicente da mais bela tarde e serras que há!
Portugal, Brasil, mundo, pelo mundo e sua cores, pintadas de amores, que nos levam e trazem, dia por dia, a cada canteiro, flor, árvore, serras e mares.
Madeira, em memórias do mundo todo, 2006
Sexta-feira, 3 de Agosto de 2007
Aqui, lá, aqui, lá, aqui...
Um momento assim,
Se vê tão bem,
Se reluz tão forte,
Se vive sem medo,
Se enche do óbvio,
do sentir transbordar o que de dentro,
sempre, vai ter.
O amor é de cada um.
O outro só precisa querer,
Receber, e devolver.
E ele, amor sem dono
e sem começo,
se torna o que sempre foi,
sem fim, sem meio,
sem porquê.
Se torna rocha no mar,
se torna onda na pedra.
Forte, a pedra, o mar, a água.
Mas a onda, esta que é nada,
tudo muda, tudo melhora,
Tudo molda e para sempre,
lá vai estar.
Aqui, em qualquer lugar, 2006
Quarta-feira, 1 de Agosto de 2007
Perto e longe
Bastou falar com ela, palavras poucas.
Engraçado é pensar que aqui de tudo fugiria,
e mais uma vez, meu fugir tem mudado,
e não há como não ser, senão uma bizarra busca.
Quanto mais escapo, menos fujo.
Aqui, quebra o mar, em ondas do nada,
E nada me chega.
Aqui, nada me escapa, e preso fico,
ao meu vazio.
Busquei o que não tive,
e achei. Afinal,
Aqui não é tão longe,
nem tão isolado,
E nem o Atlântico
precisa uma parede ser.
E de repente, mais belo até que antes,
Este azul marinho explode nas pedras,
As pedras não ligam, mas se cavam.
E este amor rebrota em mim
a paixão pela luz,
a paixão pelo sol,
pelo buscar,
pelo ir mais longe.
Buscando, e não fugindo,
escapo enfim do que me prendia,
pois é ao ignorar o sofrimento
que ele se desfaz em nada.
E se acorda, a tempo,
para um momento que antes tocava, e
agora transcende a qualquer coisa,
no re-aprender do absurdo que é se querer
ver o belo sem sentir o amor.
Volto a sorrir para mim e para a beleza sem fim do mundo e suas paisagens – certo de mais uma vez trazer em meu coração um amor para cá, e quando voltar, dividir sempre o amar, onde eu vá, e ela estiver.
Madeira 2006