Jardins de Palavras
em canteiros de versos
a cerca de eiras de prosa.
Em 2008, um mês, um livro, desde julho
Ali no canteiro central, o inusitado.
Um pombo perneta andava.
Era feio, de certa forma apenas.
Pois era também brilhante e belo de outra forma,
como seria um paraplégico em um trapézio.
Era magro e sujo, pois faltava na vida capenga
equilíbrio para comer e se limpar.
Mas, mesmo assim, ia atento.
Se equilibrava na perna restante,
e nela era forte, mas não firme.
Então, de súbito e longe de tantos olhos por perto,
Em um centro cheio e ocupado, um manco.
Com sua perna mais curta e olhar triste,
Ele viu o pombo, e se aproximava.
Ia ao pombo, como criança que achara o cãozinho de sua vida.
Sem sorrir e com a discrição de um manco
que não quer ser visto, frustrou-se.
O pombo voa. Pois na terra era manco,
no céu ainda ave.
Me fizeram pensar, aqueles dois.
Abre o sinal e parto, querendo crer em uns “queira Deus”:
Que este manco pudesse ler e escrever,
tivesse olhar terno e carinhoso,
fosse capaz de falar, e ter o que dizer,
fosse amoroso, e muito amasse.
Fosse então ainda homem em seu próprio céu.
Dezembro 2005.